O Nome da Rosa e ciência: relato sobre o encontro de novembro de 2016 do Nami



SOROCABA – O quarto e último encontro de 2016 do Grupo de Pesquisa em Narrativas Midiáticas (NAMI) da Universidade de Sorocaba (Uniso) aconteceu em 29 de novembro na Cidade Universitária Aldo Vanucci, tendo sido marcado por debates sobre a relação entre ciência e cinema.
 Dando continuidade à problematização da obra de Umberto Eco (1932-2016) no campo da Comunicação, a exibição da adaptação cinematográfica de O Nome da Rosa foi o ponto de partida para o diálogo dos pesquisadores.
Em uma analogia com o fazer científico, o filme motivou a reflexão sobre o importante papel dos investigadores como agentes sociais de transformação. Dada a natureza estética da obra, a fotografia de O Nome da Rosa foi citada como alegoria para a passagem da Idade Média à Idade Moderna, momento no qual o conhecimento científico se reconfigura intensamente e em que o homem altera a percepção sobre si e sobre o universo.
Já o papel atribuído à mulher na escrita da história foi citado como marca narrativa da constante modificação da sociedade. Oscilando entre a alegada presença demoníaca conferida ao feminino pela Inquisição e à idealização de uma figura angelical e distante da realidade medieval, os pesquisadores debateram o impacto do engajamento dos estudos realizados para contestação de certos determinismos que marcam contextos sócio, político e culturais distintos.

O Nome da Rosa
Em cerca de duas horas, acompanhamos os franciscanos Guilherme de Baskeville e Adson, seu discípulo, na investigação das misteriosas mortes que assombram os frades de abadia beneditina italiana no século XIV. A resposta prévia para o problema está posta: trata-se da presença do demônio. Mas será? Guilherme, entretanto, não se deixa cegar pela superfície do que, naquele momento, parecia óbvio, e insiste em um enigma que lhe remete aos dilemas da própria existência enquanto homem de fé.
Entre as paredes da abadia e os planos abertos majestosos do diretor Jean-Jacques Annaud, as suposições de Adson vão dando espaço à observação sistemática de Guilherme. Nesse ponto reside, aliás, outra aproximação possível entre o papel do pesquisador e do orientador em uma relação que, tanto quanto no longa, precisa dar margem ao aprendizado mútuo. Se falta experiência ao jovem pupilo, sobra-lhe entusiasmo e energia vital. Do tutor, a sabedoria e a percepção apurada dos fatos que se desenrolam transformam o espectador um cúmplice na busca pela revelação de segredos guardados por séculos.
Sem querer estragar as surpresas, e especialmente por datar do fim da década de 1980, o filme certamente merece ser (re)visto e funciona como elo para problematização da prática acadêmica por meio do cinema. Da máxima ora et labora (reza e trabalha) ao final da narrativa, o riso contido dos protagonistas em comunhão remete à experimentação dos métodos e técnicas com os quais o pesquisador se paramenta para conhecer o mundo.

FICHA TÉCNICA
Título Original: Le Nom de la Rose
Gênero: Suspense
Direção: Jean-Jacques Annaud
Elenco: Christian Slater, Elya Baskin, F.Murray Abraham, Feodor Chaliapin, Michel Lonsdale, Ron Perlman, Sean Connery, William Hickey
Duração: 118 min.
Ano: 1986
País: Alemanha / França / Itália

Texto e foto: Diogo Azoubel

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